12 de março de 2025

A jornada dos Agentes de IA

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Como especialista em IA, tecnologia e inovação, convido você a mergulhar comigo em uma linha do tempo que revela como modelos de linguagem se transformaram em agentes cada vez mais inteligentes e autônomos. Hoje, esses agentes não apenas interpretam textos e geram respostas; eles integram ferramentas externas, processam múltiplas modalidades de dados, armazenam contextos complexos e, no limite, podem conduzir tarefas com surpreendente autonomia. Mas até que ponto estamos preparados para essa evolução? E quais são os próximos passos para implementar essas soluções de forma ética e sustentável? Vamos explorar juntos.

A jornada dos agentes de Inteligência Artificial (IA) começa com um modelo básico, conhecido como LLM (Large Language Model). Pense nesse LLM como um grande “assistente inteligente” que, depois de ter sido treinado em enormes quantidades de dados, é capaz de prever qual palavra ou frase faz mais sentido em seguida. É como se ele tivesse lido milhões de livros e artigos, aprendendo estatisticamente a montar frases coerentes. Contudo, nessa primeira fase, o LLM opera dentro de limites bem claros: ele só consegue lidar com o texto que você fornece na hora e não tem como acessar informações novas ou armazenar qualquer tipo de histórico de conversa.

À medida que as necessidades aumentam, chegamos a um segundo passo: ensinar esse modelo a processar documentos maiores, como relatórios, PDFs e planilhas. Agora, ele não fica preso a textos curtos e consegue lidar com mais informação de uma só vez. Ainda assim, há um problema: ele continua “parado no tempo”, pois não sabe buscar dados atualizados em fontes externas.

É justamente aí que surge a terceira etapa, envolvendo algo chamado de RAG (Retrieval-Augmented Generation). Em termos simples, isso significa que o LLM pode “perguntar” a um sistema de busca ou a um banco de dados se há informações novas ou específicas sobre o assunto em questão. Com RAG, o modelo ganha acesso a dados frescos e aumenta a precisão de suas respostas, pois deixa de confiar apenas no que foi aprendido durante o treinamento. Além disso, ele passa a integrar ferramentas externas, podendo fazer chamadas para APIs (interfaces que conectam sistemas) e, assim, realizar tarefas especializadas — por exemplo, traduzir um texto, executar cálculos ou até verificar se algo está em estoque em um determinado site.

O quarto passo dessa evolução é dar ao agente a capacidade de memória. Até então, cada interação era independente, e o modelo não lembrava o que foi conversado anteriormente. Com a memória, a IA pode armazenar dados relevantes de conversas passadas, permitindo diálogos mais fluidos e personalizados. Isso é especialmente útil quando precisamos de suporte contínuo ou planejamos projetos mais longos. Porém, esse recurso levanta questões de privacidade e segurança: se a IA “se lembra” de tudo que falamos, como garantir que essas informações não acabem em mãos erradas?

Depois disso, entramos em uma etapa ainda mais complexa: o processamento multimodal. Isso significa que o agente não fica restrito a textos, pois também entende imagens, vídeos, tabelas e outros formatos. É como se a IA agora pudesse “enxergar” e “ouvir”, ampliando as possibilidades de aplicação — por exemplo, analisar diagramas, identificar objetos em fotos ou correlacionar números em uma planilha. É um salto enorme em termos de contexto e compreensão, mas igualmente traz novos desafios, como a identificação de “deepfakes” (imagens ou vídeos falsificados) e o tratamento de dados sensíveis.

Por fim, chegamos à fase em que a IA se torna quase autônoma, com cadeias de raciocínio (chain-of-thought) e capacidade de avaliar várias soluções passo a passo antes de responder. Nessa sexta etapa, o agente consegue escolher dinamicamente qual ferramenta ou fonte de dados usar, ajustando seus objetivos de acordo com o que descobre pelo caminho. É como ter um pequeno “time” virtual que planeja e executa diferentes tarefas ao mesmo tempo, se autoavaliando para corrigir erros e buscar melhores resultados. Porém, junto com esse poder vem a necessidade de regulação: como garantir que esses agentes ajam de forma alinhada aos valores éticos e não sejam usados para finalidades prejudiciais?

Para quem deseja começar a desenvolver agentes de IA, a dica é ir passo a passo. Se você já tem um LLM básico, adicione primeiro o RAG para atualizar o conhecimento do modelo. Depois, teste se vale a pena integrar ferramentas específicas, como tradutores ou sistemas de cálculo. Em seguida, avalie se a memória é realmente útil para o seu caso. E assim por diante. Também é importante monitorar não apenas se a IA está dando respostas corretas, mas quais tipos de erros ela comete, como eventuais “alucinações” (respostas completamente fora da realidade), e se os usuários estão satisfeitos.

Por fim, enquanto avançamos tecnicamente, não podemos nos esquecer das questões éticas. Quanto mais capaz o agente se torna, maior a nossa responsabilidade de lidar com temas como privacidade, segurança de dados e até possíveis vieses no conteúdo que ele gera. Para discutir estes e outros assuntos de liderança e inovação com mais profundidade, recomendo o meu livro, Mapa da Liderança, onde analiso como implementar transformações tecnológicas de forma segura e responsável, sem abrir mão da criatividade e do progresso. Afinal, construir o futuro da IA é um trabalho conjunto: envolve programar, liderar equipes e, acima de tudo, agir com consciência.


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Curadoria: Fábio Correa Xavier
www.fabioxavier.com.br
Fábio Correa Xavier

Fábio Correa Xavier é Mestre em Ciência da Computação pela Universidade de São Paulo,com MBA em Gestão de Negócios pelo Ibmec/RJ, e Especialização Network Engineering pela Japan International Cooperation Agency (JICA). Atualmente é CIO do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, Professor e Coordenador de graduação e pós-graduação e colunista da MIT Technology Review Brasil e da IT Forum. Possui as certificações CIPM e CDPO/BR (IAPP – International Association of Privacy Professionals), CC((ISC)² e EXIN Privacy and Data Protection. É autor de vários livros sobre tecnologia, inovação, privacidade, proteção de dados e LGPD, com destaque para o Best Seller “CIO 5.0“, semifinalista do Prêmio Jabuti 2024 e destaque da Revista Exame e também de Mapa da Liderança.

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