Na encruzilhada do impossível, onde a devoção ao Atlético Mineiro é testada ao extremo, emerge um herói improvável. Este atleticano, um mineiro de coração que reside em São Paulo, não apenas compartilha uma fé fervorosa em seu time, mas também uma história pessoal entrelaçada com resiliência. O mantra “Eu acredito!” não apenas ecoou pelas ruas de Belo Horizonte durante as reviravoltas históricas da campanha do Galo na Libertadores de 2013, mas também se tornou a filosofia de vida do nosso protagonista.
Criado em uma família onde a rivalidade entre Atlético e Cruzeiro fervilhava, nosso herói aprendeu desde cedo a torcer com fervor e persistência. Inspirado pelas palavras emblemáticas de Roberto Drummond, “Se houver uma camisa preta e branca no varal durante uma tempestade, o atleticano torce contra o vento”, ele fez da paixão pelo Galo seu credo.
A saga por um ingresso para a final da Libertadores transformou-se numa verdadeira odisseia. Cada site visitado e cada cambista enfrentado não eram meros obstáculos, mas etapas de uma jornada marcada por determinação e persistência palpáveis. Ao finalmente segurar o ingresso, a emoção transbordava, quase tangível; o sonho de ver o Atlético campeão parecia mais real e alcançável do que nunca.
A ansiedade da quarta-feira decisiva era palpável. Após um dia exaustivo de trabalho e enfrentando o caos do trânsito paulistano, ele chegou ao aeroporto de Congonhas com o coração pulsando no ritmo frenético de um tambor de escola de samba. O voo para Belo Horizonte decolou e, ao aterrissar, um breve susto tomou conta dos passageiros:
— Bem-vindos a Porto Alegre — anunciou o piloto, provocando um breve pânico em nosso protagonista.
O silêncio perplexo foi quebrado pelo riso do piloto:
— Desculpem, senhores passageiros, estamos em Belo Horizonte!
Ao adentrar o Mineirão, nosso herói foi transportado de volta a 2006, quando ele e seu pai haviam passado por essas mesmas portas. Aquele ano foi marcado por um turbilhão de emoções: a tristeza pelo ano desafiador enfrentado pelo clube, mesclada com a alegria antecipada pelo retorno triunfante.
— Aqui é Galo, meu filho, e o Galo nunca desiste. O que cai, voa mais alto depois! — as palavras sussurradas por seu pai agora ecoavam em sua mente, cada sílaba batendo como um coração atleticano.
A partida desenrolava-se sob os olhares atentos de uma multidão vibrante, Comandado pela magia do bruxo Ronaldinho Gaúcho, o Galo executava jogadas que pareciam desafiar leis, tanto do esporte quando da física. Durante uma crescente onda de expectativa, o gol de Jô emergiu. Embora não fosse uma obra de arte plástica, para o torcedor do Atlético, era um marco indelével. A torcida, num êxtase uníssono, vibrava com uma energia que apenas os verdadeiros crentes compartilham, ecoando o grito de Agora vai!!
Chega o intervalo e, carregado pelo fervor do momento, nosso herói lançou sua camisa ao ar, um gesto que parecia enviar uma mensagem esperançosa ao universo. A resposta veio de forma surpreendente quando Marcos Rocha, o lateral suspenso, capturou a camisa nas arquibancadas, autografou-a e a devolveu, criando um momento mágico de comunhão e esperança renovada.
O segundo tempo começou sob uma atmosfera carregada de eletricidade. A ansiedade espessava o ar, quase palpável, enquanto cada minuto adicionava peso sobre os ombros do nosso protagonista. A passagem do tempo parecia martelar seu coração com um ritmo implacável. Torcedores ao redor entrelaçavam suas mãos em preces mudas, compartilhando aflições e esperanças em um murmúrio coletivo, enquanto movimentos inquietos pontuavam a tensão crescente.
Quando o relógio apontava para o 42º minuto do segundo tempo e o desespero ameaçava se consolidar, a redenção veio de onde menos se esperava. Léo Silva, em um salto que driblou as expectativas, encontrou a bola com uma cabeçada poderosa e precisa. Ela traçou uma parábola perfeita, arqueando lentamente pelo ar e, quando finalmente encontrou as redes, o Mineirão tornou-se uma explosão de júbilo coletivo.
A partida avançou para a prorrogação e, inevitavelmente, para os pênaltis. O silêncio que precedeu cada cobrança cortava o ar, rompido apenas pelo som da bola sendo posicionada. O primeiro batedor do Olímpia chutou forte, mas encontrou em São Victor, com seus reflexos sobrenaturais, o obstáculo intransponível. O goleiro, usando o mesmo pé esquerdo que havia protagonizado o milagre do horto estendeu-se com precisão para bloquear o chute. O rugido que se seguiu das arquibancadas sacudia o estádio, fazendo ecoar um som de mar tempestuoso.
O momento culminante chegou com o último pênalti do Olímpia. A bola, chutada com força, beijou o travessão e se lançou para fora, decretando o fim do confronto. O Mineirão irrompeu em delírio. Gritos de “Galo campeão!” ressoavam não apenas como uma celebração de uma vitória, mas como o alívio de milhares de almas. Para o nosso herói, aquele momento transcendia o esporte; era como se o espírito de seu pai estivesse ao seu lado, compartilhando cada segundo daquela emoção inesquecível.
Após o triunfo vibrante no Mineirão, nosso atleticano encontrou refúgio no silêncio acolhedor da residência materna. Lá, cada recanto da casa e cada peça de mobiliário ecoavam memórias de sua infância e das tradições familiares. Um abraço caloroso e prolongado com sua mãe o envolveu numa sensação confortante que fundia o êxito recente com as doces recordações do passado. Entre risos e lágrimas, compartilhavam vivas lembranças de seu pai, cuja fervorosa paixão pelo Atlético Mineiro agora pulsava intensamente no coração do filho. Naquele instante de profunda conexão, mesmo sem a presença física do pai, o protagonista sentia sua presença quase palpável. Parecia que, através do futebol, os laços familiares se fortificavam, superando as barreiras de tempo e espaço. Ele percebeu que a vitória de sua equipe simbolizava não apenas um triunfo esportivo, mas também a celebração do amor e da perseverança que seu pai lhe havia transmitido.
Ao regressar a São Paulo, ele carregava consigo não somente a euforia da vitória, mas uma convicção fortalecida de que acreditar no improvável transcende o âmbito do esporte. As memórias daquela noite não ecoavam apenas no mantra “Eu acredito!”, mas também na voz de seu pai, ressoando um vínculo profundo que unia as gerações em uma apaixonada devoção ao Atlético. Cada vez que rememorava aquele evento, seu coração se aquecia, seus olhos se umedeciam e sua pele se arrepiava, sensações que surgiam não apenas pelo esporte, mas pela conexão eterna com seus entes queridos.
Essa paixão, profundamente arraigada nas tradições e memórias partilhadas, agora se estendia a seu filho. Ele observava com orgulho o mesmo brilho nos olhos do menino, que herdara o fervor pelo Atlético. Cada jogo, cada vibração da torcida, cada momento de tensão se transformava em um rito de passagem, uma celebração que transcendia o estádio, fortalecendo o vínculo entre as gerações. Juntos, diante da televisão ou no estádio, eles compartilhavam mais que vitórias e lições; eles perpetuavam um legado de resiliência, comunidade e fé inabalável. Assim, a tradição familiar não apenas perdurava, mas também florescia, rejuvenescida a cada partida, a cada ressoar do mantra “Eu acredito!” pelas gerações.
E, indubitavelmente, Eu acredito!