6 questões que o CIO deve enfrentar no pós-pandemia

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por Fábio Correa Xavier

Originalmente publicada por MIT Technology Review Brasil

6 questões que o CIO deve enfrentar no pós-pandemia

Créditos da foto: Pexels.com

Os profissionais de Tecnologia da Informação foram responsáveis por manter as empresas e organizações funcionando adequadamente durante o período de isolamento social na pandemia. Da noite para o dia, as equipes de tecnologia tiveram que colocar a maioria (senão todos) os funcionários trabalhando de casa, de forma e protegê-los da Covid-19 que assolava o mundo.

Mas quais devem ser as principais preocupações que a área de TI deve enfrentar a partir de agora? De acordo com a pesquisa State of the CIO 2022, da CIO.com1, 85% dos líderes de TI informaram que o foco será em Transformação Digital, incluindo a modernização de infraestrutura e aplicativos e alinhamento de iniciativas de TI com metas institucionais, estreitando o relacionamento e parceria com a área de negócio.

As atividades operacionais também devem consumir grande parte da agenda do CIO durante este ano, como confirmado por 84% dos entrevistados, especialmente nas ações de gerenciamento de segurança (51%), melhoria de operações de TI e desempenho de sistemas (43%) e controle de custos e gestão de despesas (29%). A pesquisa também revelou uma percepção que era comum: o papel da tecnologia se tornou mais relevante, ganhando visibilidade e se afirmando com um ativo estratégico para as empresas. Isso certamente aumentou a responsabilidade dos CIOs, que estão em busca do equilíbrio entre a inovação nos negócios e a excelência operacional.

Esse era o panorama no início do ano. Contudo, o mundo é dinâmico e muitas vezes é necessário reavaliar metas e objetivos. Fatores externos como a ainda presente incerteza sobre a pandemia, a instabilidade geopolítica e a volatilidade econômica acabam afetando a agenda de tecnologia, forçando os CIOs a revisitarem seu planejamento e reorganizar suas prioridades. Com isso, quais seriam as principais ações que os responsáveis pelas áreas de tecnologia devem focar no segundo semestre deste ano de 2022?

1. Segurança Cibernética

Sem dúvida, a área que terá o maior investimento contínuo em TI é a segurança cibernética. Nenhuma surpresa, em face do crescimento dos ataques cibernéticos durante a pandemia, especialmente os ataques de ransomware, sem falar dos constantes vazamentos e violações de dados. A pesquisa revelou que quase metade dos entrevistados (49%) citou o aumento das proteções de segurança cibernética como a principal iniciativa de negócios para os investimentos em TI neste ano de 2022. Isso não deve mudar no segundo semestre e a segurança cibernética deve continuar na agenda das equipes de TI. Além do aumento dos ataques cibernéticos – e seus danos financeiros2 e principalmente de imagem da organização -, outros fatores como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e suas sanções, a necessidade de um gerenciamento de risco eficaz e o trabalho híbrido – que acabou expandindo o perímetro de segurança para toda a Internet – acabaram alçando a segurança da informação à posição de destaque quanto às ações e investimentos de TI neste ano. O objetivo é minimizar a chance de ter os negócios impactados por um ataque bem-sucedido, aumentando a resiliência das organizações no ambiente digital. Destaca-se, ainda, a necessidade de conscientização e treinamento constante de todos os colaboradores, uma vez que a segurança da informação é responsabilidade de todos e não somente da TI3.

2. Demandas, demandas e demandas

O volume de trabalho para as equipes de TI é uma das principais questões que devem preocupar os CIOs. Essa demanda crescente é uma consequência direta de todo o trabalho de digitalização que as empresas realizaram nos últimos dois anos para enfrentamento da pandemia. Esse trabalho lançou as bases para transformações mais avançadas e criou novas oportunidades de aprimoramento, pressionando as empresas a aproveitar o investimento já feito. E essa demanda por Transformação Digital está vindo de todos os setores da empresa, sobrecarregando a área de TI com diversos projetos e ações simultâneas.

3. Análise avançada de dados

As organizações estão cada vez mais adotando a cultura data-driven, ou seja, a utilização da análise de dados para fundamentar suas tomadas de decisão, uma gestão orientada por dados. Contudo, esses dados precisam ser trabalhados e higienizados para que sua análise traga insights valiosos e assertivos. Antes de sua utilização, é necessária uma verdadeira transformação de dados, incluindo atualizações tecnológicas, camadas de integração para acesso mais ágil aos dados brutos, com todo tipo de dado (estruturado, não estruturado, mídia, redes sociais – big data) e a criação de uma cultura de inovação, fazendo uso intensivo de “testes de hipóteses” com uso massivo de dados. E quando falamos em dados, naturalmente associamos à utilização de técnicas de Inteligência Artificial e aprendizado de máquina, de forma a otimizar e impulsionar essas análises avançadas.

4. Maior produtividade com menor custo

Não é de hoje que as organizações buscam o aumento da eficiência operacional e o aumento da produtividade, de forma a aumentar sua competitividade no mercado. E a tecnologia acaba sendo um grande aliado nessa jornada, uma vez que tem potencial para reduzir custos — tanto na própria TI quanto em toda a organização.

A TI sempre foi incitada a encontrar soluções tecnológicas para reduzir custos e incrementar a eficiência. Contudo, há fatores externos que impactam diretamente nessa tarefa, como a saúde da economia geral, a inflação, recessão. Assim, os CIOs deverão reavaliar orçamentos, em face de novas demandas e realinhamentos estratégicos da organização, de forma a reequilibrar os investimentos com a expectativa da alta administração.

5. Nuvem cada vez mais “concreta”

As empresas estão avançando cada vez mais no uso da nuvem. Esse fato é comprovado pela pesquisa Evanta4 que constatou que 54% das organizações estão investindo em infraestrutura de nuvem, sendo a segunda maior área de investimento em TI, logo atrás da segurança cibernética. Outras análises também ratificam essa tendência de investimento na nuvem. Uma pesquisa da PwC, intitulada Pulse 20225, descobriu que 43% das organizações estão ajustando sua estratégia de TI e modelo operacional para serem mais ágeis, 35% estão alavancando investimentos em infraestrutura para migrar de datacenters tradicionais para a infraestrutura em nuvem e 28% estão redefinindo arquiteturas corporativas para serem baseadas em nuvem.

6. A acirrada competição por profissionais

A situação não é nova. Há muito tempo tem sido difícil encontrar talentos, especialmente por conta da falta de mão-de-obra qualificada. Somente no Brasil, segundo estudo da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e de Tecnologias Digitais (Brasscom6), serão necessários quase 800 mil profissionais de tecnologia até 2025. No entanto, a pandemia acabou agravando esse quadro, em função da acelerada Transformação Digital pela qual as empresas passaram. A mudança para o trabalho remoto nos últimos anos tornou a concorrência ainda mais acirrada. Assim, a disputa por talentos, que antes era limitada geograficamente, agora é globalizada. Um profissional de TI qualificado é disputado por empresas multinacionais, muitas vezes sem representação física no país, permitindo que o trabalho seja feito de forma completamente remota e, em alguns casos, com salários em dólares. E não é raro encontrar casos de profissionais que acabam prestando serviço para mais de uma empresa, nesse modelo de home office.

A possibilidade que muitos CIOs têm enxergado é o desenvolvimento de talentos internos para garantir que eles permaneçam na organização e sejam capazes de lidar com as cargas de trabalho do futuro, com o devido reconhecimento.

Contudo, a solução final para esse problema ainda está distante. Como já escrevi aqui na MIT Technology Review Brasil7, a formação e a requalificação de talentos para o mercado de trabalho do futuro deve ser fruto de uma forte parceria entre governo, mercado e universidades, pois o uso massivo de inteligência artificial demandará novas competências e habilidades.

A nova TI

Após décadas de redução ou terceirização das áreas de TI, as organizações de todos os ramos — públicas e privadas — estão se reinventando para garantir um núcleo próprio de tecnologia, pois entenderam que a TI é vital e estratégica para o sucesso de suas atividades. No mundo pós-pandemia, onde organizações se tornaram mais digitais, executivos, incluindo CIOs, devem lidar com vários desafios – inflação, globalização, escassez de suprimentos, alta rotatividade de pessoal. Assim, com as organizações mais engajadas do que nunca em tecnologia, os CIOs devem constantemente comprovar sua capacidade de liderança por meio da transformação digital contínua, sendo, muitas vezes, o fio condutor desse processo dentro da organização.

A nova TI deve trabalhar em parceria muito próxima com suas partes interessadas para permitir a ambição da empresa de alavancar as tecnologias digitais para melhorar seu modelo de negócios atual e criar produtos, serviços e modelos eficientes, agregando valor e diferencial competitivo para as organizações. Mais do que nunca, o CIO e sua equipe devem mostrar capacidade de realização e entrega, em um cenário em que se espera que as expectativas sejam atendidas, e muitas vezes, superadas.

Fábio Correa Xavier

Mestre em Ciência da Computação | Professor | Colunista da MIT Technology Review Brasil | Inovação, Privacidade e Proteção de Dados | Membro IAPP, GovDados